Manaus: ele viu morte da sogra dentro de hospital na madrugada sem oxigênio
Na madrugada da última sexta-feira (15), hospitais de Manaus enfrentaram quase que ao mesmo tempo a falta de oxigênio para tratar pacientes com covid-19. Francisca Elisabete Rocha, 45, morreu naquela madrugada por volta das 3h30, após ter o suprimento cortado instantes antes.
O drama dela foi assistido pelo genro dela, Denis Lopes Santana, 32. Ele contou ao UOL o que ocorreu dentro do hospital pronto-socorro São Raimundo naquela madrugada. "Foram nove mortes só naquele dia", conta.
Naquela madrugada e manhã, vários hospitais de Manaus relataram falta de oxigênio para suprir os pacientes da capital do Amazonas. Não há números oficiais de quantas pessoas morreram por conta do problema, que está —ao menos por ora— sendo contornado com a chegada de estoques entre sexta e sábado.
A reportagem enviou na noite de ontem email à Secretaria de Saúde do Amazonas para que se posicionasse a respeito das circunstâncias da morte de Francisca. Assim que houver uma resposta, o texto será atualizado.
Sintomas e agravamento
O genro conta que Elisabete começou a sentir os primeiros sintomas da covid-19 no dia 31 de dezembro, mas ainda de forma leve.
"Ela estava trabalhando normalmente no comércio [onde era vendedora] antes do lockdown. Quando foi segunda-feira [dia 4] ela já não foi trabalhar, foi para o médico e teve direito a um atestado de 15 dias. Mas ela deu entrada na quarta-feira passada com muita falta de ar", explica Denis.
Para azar de Francisca, foi justamente nesta madrugada que houve a falta de oxigênio. Segundo Denis, isso foi determinante para agravar rapidamente o quadro de saúde dela.
"Quando ela estava lá recebendo o tratamento, acabou o oxigênio, e imediatamente a saturação dela caiu para 36%, o que é muito baixo! Aí, depois de um tempo, chegaram dois cilindros [de oxigênio], e quando ela recebeu a saturação dela voltou com para 95%. Mas o quadro piorou demais e ela só durou mais 40 minutos e teve uma parada cardíaca e morrer", explica.
Denis ainda conta que o cenário de caos foi visto por todos que estavam lá, como amigos e parentes que estavam no local. No pronto-socorro, diz, não há UTI (Unidade de Terapia Intensiva).
"Os profissionais tentaram reanimar, tentavam de todo jeito agir, era um desespero. Todos tentaram contornar o problema, mas não foi suficiente para salvar todos", lembra.
"Foi um caos aquela madrugada. Estavam todos chorando e gritando, foi algo terrível, que ninguém imaginaria", completa.
Família em estado de choque
Segundo o genro, que é pastor da Igreja Maranata, em Manaus, a família ainda está em estado de choque com o que houve.
"O sentimento que temos é de impunidade, de indignação. Ainda estamos em luto, mas vamos pensar com calma se vamos levar algum processo contra o estado pela morte dela", afirma.
Francisca foi sepultada em um cemitério particular na mesma quinta-feira em que morreu, em um velório com restrições por conta da covid-19.
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